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CRISE DO SÃO CAMILO: A saúde privada e jogo eleitoral no Amapá

  • Foto do escritor: Fernando França
    Fernando França
  • 17 de out.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 17 de out.

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Por Fernando França


O que o governador Clécio Luís quis dizer sobre “sabotagem política” ao se referir à decisão do Hospital Sociedade Beneficente São Camilo (SBSC) em romper o contrato com o Governo do Amapá e suspender atendimentos do SUS?


Ele quis dizer que não foi apenas um ato administrativo — foi um movimento político calculado para beneficiar indiretamente o prefeito de Macapá, o médico Antônio Furlan, candidato ao governo estadual em 2026. Ou seja, é uma decisão que vai além da saúde pública: ela escancara o quanto a vida das pessoas pode ser usada para objetivos políticos. E mostra que uma parcela da classe médica apoiadora de Furlan trava uma disputa silenciosa, porém cada vez mais evidente, pelo comando do Estado em 2026.


A narrativa do hospital é uma dívida de R$ 98,7 milhões, deixando subentendido que o Estado estaria se negando a pagar. A reação do governador Clécio Luís foi dura e imediata: classificou a decisão como “sabotagem política” e alertou para o impacto social da medida, tomada sem aviso prévio.


A Secretaria de Saúde (Sesa) disse que havia diálogo em curso para quitar débitos antigos — alguns herdados de gestões anteriores. Foi o que revelou a auditoria do SUS, apontando ainda que o hospital teria recebido R$ 52,6 milhões indevidamente entre 2012 e 2019.


A crise trouxe à tona uma ferida antiga: a relação entre um forte setor da classe médica e o poder público no Amapá. Desde a gestão de João Alberto Capiberibe (1994–2002), há animosidades entre parte da classe e o governo estadual, o que se agravou na gestão Clécio, a partir de operações da Polícia Federal que revelaram esquemas de corrupção envolvendo plantões médicos.


A Operação Jaleco Fantasma, deflagrada em outubro de 2024, e a Operação Sinecura, ocorrida em julho de 2025, revelaram fraudes nas escalas de plantão do Hospital de Clínicas Dr. Alberto Lima (HCAL), o que elevou a pressão sobre o governo Clécio Luís e intensificou ataques sistemáticos da oposição ao setor de saúde pública estadual porque as denúncias que revelaram as fraudes partiram de dentro do próprio governo.


Um movimento com endereço certo


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A ruptura do São Camilo não aconteceu no vácuo. O momento escolhido — a um ano das eleições estaduais —, somado ao discurso do presidente da Associação Médica, Dr. Mauro Secco (foto acima), primeiro suplente de deputado federal pelo mesmo partido do Dr. Furlan, o MDB, indica que o episódio foi pensado para produzir ruído político. O governo fala em sabotagem; os críticos falam em má gestão. Entre os dois discursos, está uma realidade inegável: o caos interessa a alguém. E esse alguém é o médico Antônio Furlan.


Nos bastidores, o movimento é interpretado como uma ofensiva para fragilizar a imagem de Clécio Luís e abrir caminho para o fortalecimento do prefeito Dr. Furlan, bastante desgastado por denúncias de corrupção em sua gestão e por operações da Polícia Federal que investigam desvios de recursos públicos e lavagem de dinheiro.


Vale lembrar que Antônio Furlan teve como mote de campanha, em 2020, a frase “De saúde eu entendo”. No entanto, promoveu na capital uma série de reformas físicas e estruturais no sistema de saúde municipal que beneficiaram diretamente o setor privado, além de muitas denúncias sobre falta de médicos e medicamentos nas UBSs, reduzindo a capacidade de atendimento dessas unidades.


Durante sua administração, Macapá assistiu a uma expansão expressiva dos planos de saúde populares, com consultas que vão de R$ 80 a R$ 180, enquanto o atendimento público municipal enfrenta carências. O vácuo deixado no sistema municipal acabou alimentando o crescimento de clínicas privadas e operadoras locais — e consolidando um novo mercado de saúde na capital.


A crise do São Camilo, portanto, não é apenas uma disputa por recursos: somada às declarações do médico Mauro Secco, é uma disputa de narrativa e de hegemonia política para fortalecer o setor privado. O objetivo político é desgastar Clécio Luís e tentar e reposicionar Furlan no tabuleiro do jogo eleitoral.


Imagens: arquivo de internet

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